sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Lages para Sempre

Como conhecer a história de uma cidade? Tenho descoberto e vivenciado essa experiência de uma maneira muito simples e marcante: ouvindo as histórias de pessoas que, em diferentes segmentos deixaram suas marcas e têm contribuído significantemente na construção da cidade.

As histórias se entrelaçam, os personagens se cruzam e alguns nomes, algumas situações descritas se repetem. Sim, não podemos descartar ou ignorar os livros e personagens históricos, mas as pessoas ao seu modo e com simplicidade, essas sim, são imprenscidíveis e devemos preservar sua memória. Mas não apenas isso, também a sua voz, a sua imagem, a emoção de falar ou lembrar de algo. Partindo do princípio que todo mundo tem uma história legal pra contar, meu desafio como jornalista é provocá-las a compartilhar isso.

Com essa proposta surgiu o programa Lages para Sempre, produzido pela TV do Legislativo Lageano. O programa é exibido no canal 27 da NET, na TV Araucária, sinal aberto, as terças a partir das 23hs e nos sábados às 13h30, e no site da Câmara www.camaralages.sc.gov.br






O programa é dividido em dois blocos de 15 minutos, mas as gravações têm durado em média uma hora e os conteúdos, na íntegra, de todas as entrevistas fazem parte do acervo do Museu da Imagem e do Som do Legislativo Lageano, e em breve estarão disponíveis para pesquisa.

Um professor, muitas lições de vida

Hoje é o Dia do Professor. Isso remete a uma comemoração. Paro por um instante para lembrar das pessoas que numa sala de aula transformaram minha vida e contribuíram para aquilo que sou hoje.

A primeira professora, de estatura baixa, vestida sempre muito elegante e com salto alto. Era tão delicada e amorosa, me ensinou a ler poesias e participar de concursos.

Lá pela quarta série, quando eu já era apaixonada pelo Indiana Jones e sonhava me tornar uma escritora de romances, daqueles com uma foto de chapéu e lenço na contra-capa do livro, bem, essa professora me ensinou da maneira mais dura o que era um plágio. Vou contextualizar.

Desde o jardim de infância éramos três amigas inseparáveis: brincávamos juntas, gostávamos do mesmo menino e, claro, os trabalhos de aula eram feitos em conjunto. Pois bem, a lição naquele fatídico ano era escrever um livro. E como eu sonhava ser uma escritora, assumi a responsabilidade. Mas adivinhe, a tal inspiração não vinha e imaginando ter encontrado uma história incrível, que ninguém iria suspeitar, copiei na íntegra a história da velhinha contrabandista. Aquela que passava diariamente pela alfândega de motocicleta e o fiscal não conseguia descobrir o que a velhinha contrabandeava. Até que enfim, quando o fiscal que estava prestes a se aposentar implorou que contasse e ela confessou que eram lambretas.

Pois bem, no dia da apresentação dos grupos, a professora perguntou quem havia escrito a tal história e após a minha manifestação, disse em alto bom som: a história é muito boa, mas eu já a conheço há muito tempo.

Imaginem que além do constrangimento público, estava em risco a minha relação com as minhas melhores amigas, que claro, não as recrimino por isso, não aceitaram refazer o trabalho comigo. O final dessa história é que escrevi “O sonho de Fabiano”. Porém, após a correção a professora não me devolveu, pois havia encaminhado a biblioteca para ver se eu havia copiado o texto de algum livro de tão bom que havia ficado. É aquele ditado, muitas vezes, a gente só tem uma primeira chance de impressionar.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Aleluia!! Agora é pra valer!

Eu buscava inspiração para começar a escrever. Talvez a preguiça de colocar as palavras no papel, seja uma explicação mais coerente. Enfim, busquei a inspiração em outra cidade para falar da minha e a preguiça foi embora. Não sabia por onde começar, pois o olhar sobre a cidade varia todos os dias. Um céu nublado, um pôr do céu indescritível, aquela brisa da manhã, um caminho diferente, a geada sobre o campo, um olhar para a fachada de um prédio antigo. É fato que o grande, o novo e o belo nos impressionam, mas são os detalhes, as sutilezas que criam vínculos.

Para começar a falar de Lages fui a Curitiba. Eu que nasci e até poucos anos morava em Joinville, apontada como uma cidade grande, fiquei assustada, mas, sobretudo, surpresa e encantada com a forma pela qual a capital paranaense incorpora desenvolvimento com sustentabilidade.

Um lixão transformado em um dos mais importantes pontos turísticos da cidade, o Jardim Botânico. Ali, uma estufa de vidro, inspirada no palácio de Cristal de Londres, abriga inúmeras plantas brasileiras e de outros países. Atrás da estufa, um espaço cultural abriga salas de exposições e na frente lindos jardins com inspiração francesa.




Já o Parque Barigui foi criado na década de 70 com o objetivo de conter as enchentes e preservar a mata nativa. Ao redor de um grande lago represado vivem diversas espécies de animais, como capivaras e carneiros. Os gramados servem para a prática de esportes como o futebol e caminhadas, pista para skate e bicicross, quiosques com churrasqueiras, bares e restaurentes são atrações que completam este espaço incrível.



Duas pedreiras desativadas deram origem ao Parque Tanguá, o qual se destinaria a abrigar uma usina de reciclagem de lixo industrial. Na entrada, um portal de acesso com um grande jardim em estilo francês e espelhos d’agua conduzem a um mirante para observação e podem garantir fotos incríveis do pôr do sol, já que a noite o parque possui uma iluminação especialmente projetada. Além da ciclovia, pista de corrida e lanchonete, o turista pode ainda desfrutar de um passeio de barco passando por um túnel artificial.






O parque Tingui abriga o Memorial Ucraniano, onde foi construída uma réplica de uma igreja ucraniana e que serve para a realização de eventos e exposições. Mata nativa, jardins, pontes, um mirante de observação, parque infantil, ciclovia e churrasqueira são alguns dos atrativos para os turistas.




Outro lugar incrível, que envolve crianças e adultos é o Bosque do Alemão, que homenageia a cultura que os imigrantes alemães trouxeram para Curitiba. Em meio à mata nativa, foi construído um mirante que recebeu o nome de Torre dos Filósofos.




Tem ainda uma trilha chamada João e Maria que reproduz a história em versos pintados em painéis de azulejos e que conduzem a Casa Encantada, uma biblioteca, onde de hora em hora, uma bruxa conta histórias infantis.





Além disso, foram construídas também uma sala para concertos musicais e um portal inspirado na arquitetura alemã.








Impressiona a ousadia e a modernidade da obra projetada por Oscar Niemayer, mais conhecida como o Museu do Olho, o MOM. Não foi possível visitar as instalações internas, mas já por fora se tem uma dimensão do que pode ser a arquitetura aliada à arte.



Outra experiência bem bacana foi conhecer a feira de arte e artesanato do Largo da Ordem, no centro da cidade. A feirinha do Largo como é chamada acontece todos os domingos, entre 9h e 15hs. Não é possível precisar, mas são mais de mil barracas que vendem artesanatos, quadros, comidas, livros, objetos de decoração, roupas e até mesmo exposição de carros antigos. São muitas barracas, opções e muita gente circulando. No meio da praça, um chafariz, também chamado de Cavalo Babão, joga água pela boca e ao lado funciona uma importante galeria de arte com quadros de artistas renomados.



Enfim, foram apenas dois dias de passeio e certamente não foi possível conhecer tudo. Mas espero ter descrito e compartilhado o pouco que conheci, pois não voltei desanimada pra Lages, pensando sobre como nos faltam opções de lazer e cultura. Ao contrário é bom sair do ninho e ver como o mundo é infinito e cheio de possibilidades, bem perto da gente.

Lages abaixo de chuva

Eu gosto muito de chuva. Ela me inspira, não para dormir ou ficar em casa comendo. Não, a chuva me inspira a possibilidade da vida que nasce, que brota, que se renova não só para o natureza mas para o homem. A chuva é poética, romântica, fértil. Mas às vezes desviamos nosso olhar disso tudo e ficamos esperando a chuva passar. É um desperdício, mas enfim, somos demasiadamente humanos para nos darmos conta disso o tempo todo.

Posso dizer que tenho o privilégio de ver da janela de casa, uma das vistas mais lindas de Lages. Faça chuva ou sol o Tanque é um lugar especial. É democrático, atrai turistas e famílias de todas as classes sociais. Um lugar para passear, namorar, tirar fotos, andar de pedalinho. Mas infelizmente também sido um local usado por adolescentes, na grande maioria, praticar atos de deliquencia. Às vezes fico observando e não entendo as provocações para briga, o uso de drogas a luz de dia, como uma tentativa de afirmação. Eles andam e se vestem de maneira parecida, mas não parecem ter uma identificação. Não são um grupo, ou gangues, ainda. Não existe um policiamento constante, mas pelo fluxo de pessoas, poderia haver uma base da policia no Tanque. Assim como um centro cultural, com um cybercafé, uma banca de revistas, um espaço para exposição e venda de artesanato, e que fosse aberto diariamente, especialmente nos finais de semana e feriados. Isso daria mais vida ao Tanque mesmo em dias de chuva.

Outra situação que requer um olhar diferente, em dias de chuva é o trânsito. No caso de Lages, não se pode afirmar que vivamos diariamente um caos no trânsito. Há sim, alguns locais que concentram um fluxo maior, observo que talvez se as pessoas buscassem rotas alternativas, até mesmo pra sair da rotina, diminuiria em muito o problema. Mas dirigir em Lages em dias de chuva, requer paciência. Isso que na área central os carros não dividem a pista com os ônibus circulares, o que é um problema nas grandes cidades.

Interessante também observar que em dias de chuva o centro da cidade também se transforma. No calçadão, os bancos da praça ficam vazios e me pergunto para onde vão os grupos de senhores que costumam se encontrar para observar e comentar as notícias da cidade. Por não termos bares ou cafés que funcionem como um ponto de encontro para um bate papo, eles vão para baixo das marquises. Que desperdício. Agora sim, devo confessar me vem a imagem e o desejo de um café expresso bem quentinho, um pedaço de torta e uma conversa fiada no final de uma tarde chuvosa.