terça-feira, 26 de outubro de 2010

Lages para sempre

Na sexta-feira, 22, gravamos mais um programa Lages para Sempre, projeto do Legislativo Lageano. A entrevista foi com Maria do Carmo Lange Malinverni, a dona Manriche, viúva de Malinverni Filho.





O primeiro encontro entres eles, aconteceu numa das festas de Santa Cruz, quando ela tinha apenas 9 anos. Ao vê-la chorando, Malinverne, treze anos mais velho a pegou no colo e disse: não chore minha noiva.




(Dona Marinche retratada por Malinverni)


O novo encontro e o início do namoro ocorreu somente quando ela já tinha 18 anos e ele voltava do Rio de Janeiro.

Uma bela história de vida marcada pelo amor e dedicação de uma mulher que dedica sua vida a preservação da obra do artista que faleceu aos 56 anos, vitíma de intoxicação das próprias tintas que usava para pintar...



“A arte é a religião do belo. A pintura, uma oração colorida”.

Malinverni Filho, autor desta frase, dedicou sua vida as artes. Do primeiro quadro, intitulado “Santa Luzia”, pintado aos treze anos, com tintas preparadas por ele mesmo, grande parte de sua obra se mantém imortalizada e preservada ainda hoje.

Quem visita o Museu Malinverni Filho, localizado à Rua Manoel Tiago de Castro, no Centro de Lages, pode tomar contato, não apenas com o acervo das obras de um dos mais talentosos artistas lageanos, mas com a história de uma família que dedica sua vida as artes.



A casa, que foi transformada em museu no ano de 1986, recebeu somente em 2007, mais de 5.500 visitantes, a maioria destes, turistas e estudantes. Divididos em diversos ambientes, quadros, desenhos, documentos, matérias de jornais, poemas e anotações feitas em pequenos pedaços de papel, além de objetos de trabalho do artista, ocupam cada espaço da casa em que o artista viveu. Além disso, uma sala é reservada, sem custos adicionais, às exposições dos artistas locais. Um espaço de grande importância para a cultura local e nacional, que merece atenção e apoio financeiro, tanto da sociedade civil, como dos poderes públicos.

Visitar o Museu Malinverni Filho, na companhia de Maria do Carmo Lange Malinverni, viúva do artista e do seu filho Jonas Malinverni Filho, proporciona muito mais do que o contato direto com a história e a importância das obras. A maior parte do acervo possui um grande valor no mercado das artes e poderiam estar decorando paredes de casas ou museus pelo mundo inteiro. Mas a perseverança e abnegação de Dona Maria do Carmo permitem que ela, aos 81 anos, continue se dedicando e lutando pela permanência do museu.

“Cada trabalho tem a sua história”

Foi ele quem abriu na metade década de 50, a primeira Escola de Belas Artes de Santa Catarina, que funcionava nos fundos do Museu. Pouco meses depois, quando por falta de recursos precisou fechar a Escola, Malinverni afirmou: ”Fechei a escola e joguei a chave fora”, o que representou, segundo a viúva, uma das maiores desilusões na vida do artista que faleceu aos 58 anos, vítima de um câncer no pâncreas.



(último quadro pintado por Malinverni até três dias antes de sua morte, a obra ficou inacabada)



O museu que não cobra ingresso dos visitantes, se mantém através de um convênio firmado entre a Associação Amigos do Museu Malinverni, criado na década de 90, com a Prefeitura, que disponibiliza três servidores e recursos na ordem de R$ 2.000,00 mensais. Mas, novos investimentos são necessários para garantir a conservação das obras e para a realização de novos projetos, como a confecção de um livro com a reprodução de todas as obras. Um aparelho de desumidificador de ar foi adquirido através da lei de incentivos fiscais, mas ainda não foi instalado e o museu, que está cadastrado no Guia Nacional de Museus, não possui um computador para os registros do acervo. O Museu Malinverni Filho funciona das 9h às 12 horas e das 14h às 17h. As visitas também podem ser agendadas através do telefone 3222-0897 ou 3222-7831.



( o monumento em homenagem a Correia Pinto, assim como o busto de Nereu Ramos, também são obras de Malinverni Filho)

Saiba um pouco mais da história deste artista:

Filho do escultor italiano Agostinho Malinverni e de Anna Ângela Corsetti Malinverni, também italiana, Malinverni Filho nasceu no dia 16 de fevereiro de 1913.
* Em 1928 ao participar de um concurso em âmbito nacional conquistou o 1°. Lugar em desenho.
** De 1929 a 1933 trabalhou com seu pai, esculpindo em pedras na oficina de cantaria.
*** Em 1934 iniciou seus estudos na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, com bolsa de estudos do governo do Estado de Santa Catarina. Para vencer as dificuldades financeiras, após as aulas pintava com o material abandonado pelos colegas no porão da escola, o qual transformou em atelier. Neste contexto pintou o quadro “Rua Taylor”em 1936, quando recebeu o 1° Prêmio na exposição coletiva da Escola.
**** Em 1939 iniciou o curso de escultura e com apenas cinco meses de aula, seu trabalho conquistou o 1° lugar, sendo filmada em “O Cisne Branco”. Recebeu encomendas de todo o país. Até a sua morte havia registro de 49 telas vendidas para o exterior: França, Alemanha, Inglaterra, Argentina, Uruguai, Áustria, Alaska, Suíça, Portugal, Holanda, Estados Unidos e México. Durante três anos foi restaurador de telas no Palácio Itamaraty.
É considerado o melhor pintor de araucárias e das paisagens serranas, uma destas inclusive, foi adquirida pelo magnata americano Nelson Rockfeller. Pintou em tamanho natural o retrato de três governadores de Estado, da Miss Santa Catarina de 1964, Salete Chiaradia. Além de paisagens, pintava natureza morta, nus, retratos e interiores. Entre os trabalhos de escultura, destacam-se: a estátua do Governador Jorge Lacerda, em Florianópolis e de Nereu Ramos em Lages; do fundador de Lages Antônio Correia Pinto; o bustos do governador Ivo Silveira em Palhoça.


Frases:
“A arte é a religião do belo. A pintura, uma oração colorida”.
“Perspectiva são linhas mentirosas que dizem a verdade”.
“A minha escola se baseia no correto desenho, que procuro dar mais vida, com as cores que me empresta a natureza”.
“Sendo Deus o supremo artista, deturpar a natureza é profanar a sua obra”.

Um comentário:

  1. Semana passada, coincidentemente, apresentei aos meus colegas de curso aqui na Univali de Biguaçu um pouco da obra de Malinverni Filho. Precisamos valorizar a obra daqueles que respeitaram Lages, não por acaso, Malinverni ficou conhecido como o "pintor dos pinheiros".Alexandre

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